Mulheres ocupam 79% dos cargos de Docentes no Brasil
No universo da educação básica no Brasil, um cenário marcante se destaca: das mais de 2,3 milhões de pessoas que compõem o corpo docente, aproximadamente 1,8 milhão são mulheres, representando expressivos 79% do total da categoria
A predominância feminina na sala de aula é notória, mas essa estatística traz consigo desafios que vão além da simples contagem de profissionais. É necessário discutir gênero para compreender os obstáculos enfrentados pelas mulheres no contexto da carreira docente.
A professora Márcia Ondina Vieira Ferreira, da Universidade Federal de Pelotas, dedica-se a investigar a interligação entre a presença maciça de mulheres nas salas de aula e os fatores históricos, sociais e econômicos que permeiam essa realidade. Em suas pesquisas, ela destaca que o machismo cria barreiras que impedem as mulheres de atingirem níveis mais elevados de prestígio e remuneração na profissão.
Histórico e Conquistas:
O século 19 marcou um ponto de virada, quando as mulheres brasileiras conquistaram espaço nas escolas. Naquela época, a maioria dessas pioneiras vinha de famílias escolarizadas e da classe média para cima. Márcia Ferreira explica que essas mulheres buscavam na docência uma forma de se inserir no mundo público, saindo do âmbito restrito de suas famílias.
Desafios e Estigma:
Apesar do avanço ao longo dos anos, as mulheres na educação básica ainda enfrentam estigmas relacionados à ideia de serem cuidadoras por excelência. A docência muitas vezes é encarada como uma vocação, não sendo devidamente reconhecida como uma profissão. Vanessa Lopes, professora mineira de 26 anos, ressalta que o discurso da vocação pode desmotivar jovens a ingressarem na carreira docente, destacando a necessidade de se desvincular a imagem da professora exclusivamente dedicada a ações altruístas.
Desigualdades Raciais:
Além do gênero, a pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revela desigualdades raciais na profissão docente. Enquanto quase metade das mulheres brancas com emprego formal no país atua na docência, apenas 36% das mulheres negras no mercado de trabalho ocupam essa função.
Remuneração e Desmotivação:
Apesar dos avanços salariais, o piso nacional estabelecido para os professores da educação básica é de R$ 4.420,55 para uma jornada de 40 horas semanais. No entanto, muitas redes de ensino não seguem esse parâmetro mínimo, conforme destaca o repórter Paulo Saldaña. A remuneração, somada ao estigma da vocação, contribui para desmotivar as mulheres, como expressa Vanessa Lopes ao ressaltar o desejo de viver seu lazer sem se sentir compelida a realizar apenas ações gratuitas.
Em um país onde as mulheres são a espinha dorsal do corpo docente, é urgente reconhecer e superar os desafios de gênero, valorizando a profissão e garantindo igualdade de oportunidades e remuneração para todas as educadoras.