O Movimento Incel retratado na série Adolescência

A minissérie britânica Adolescência, lançada pela Netflix, traz à tona temas urgentes sobre violência de gênero e o impacto das redes sociais no comportamento de adolescentes

Com apenas quatro episódios, a trama acompanha o caso de Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado de matar sua colega de classe, Katie. Mais do que um thriller investigativo, a série se aprofunda nas origens psicológicas e sociais do crime, revelando toda a influência de comunidades online conhecidas como “incels” — homens que se identificam como celibatários involuntários e alimentam um discurso de ódio contra mulheres.

O que é o movimento Incel na série Adolescência?

O termo “incel” é uma abreviação de “involuntary celibate” (celibatário involuntário) e se refere a homens que se consideram incapazes de estabelecer relações afetivo-sexuais, culpando as mulheres por sua solidão. Essa ideologia radical tem ganhado espaço em fóruns e redes sociais, onde o discurso de ódio é alimentado por indivíduos que se sentem isolados, desprezados e frequentemente vitimizados.

O conteúdo que é promovido por essas comunidades distorce conceitos de masculinidade e relacionamento, incentivando a misoginia e, em casos extremos, a violência.

Como a série Adolescência retrata o Incel?

Desde o início da série, o público é confrontado com a brutalidade do crime cometido por Jamie, que assassina sua colega Katie. No entanto, o foco dessa narrativa está em compreender como um adolescente comum chegou a esse ponto.

A série revela que Jamie era alvo constante de bullying e rejeição — especialmente por parte da própria vítima, Katie. No 2º episódio da série, quando policiais investigavam o caso dentro do colégio de Jamie, é revelado que Katie enviava emojis de “incel” a ele, zombando de suas condições sociais e emocionais.

Quais são os emojis?

• 🧡 (Coração Laranja): Amizade;
• 💗 (Coração Rosa): Interesse não sexual;
• 💜 (Coração Roxo): Interesse sexual;
• 💯 (Número Cem): Teoria 80/20;
• (Feijões): adesão ao Incel;
• 💥 (Colisão): adesão ao Incel;
• 💊 (Pilula Vermelha): adesão a “manosfera”.

Apesar da humilhação sugerir um gatilho para que Jamie busque refúgio nessas comunidades, o garoto diz à psicóloga Briony no 3º episódio que, não se interessou pelo conteúdo que encontrou, quando explicava o significado dos emojis. Ainda no terceiro episódio, Jamie menciona diretamente a chamada “teoria 80/20”, amplamente divulgada nos fóruns incels, essa teoria sustenta que 80% das mulheres desejam apenas os 20% dos homens mais atraentes.

Essa teoria promove o ressentimento de jovens que se sentem excluídos, reforçando a ideia de que o problema está nas mulheres e na sociedade, e não neles mesmos. Contudo o garoto Jamie apresenta um surpreso comportamento explosivo, no episódio 3 da série, sempre tentando confrontar e menosprezar a psicóloga.

Além disso, ‘Adolescência’ critica a ausência de diálogo e o monitoramento por parte dos pais de Jamie. Embora acreditassem que o garoto estava seguro dentro de seu quarto, ignoravam completamente sua radicalização online.

A série mostra como esse isolamento emocional e a exposição a discursos extremistas na internet podem se tornar uma combinação explosiva.

Casos reais: do virtual ao violento

Embora a história de Jamie seja fictícia, a realidade mostra que os perigos do movimento incel são muito concretos. Um dos casos mais emblemáticos foi o de Elliot Rodger, que em 2014 matou seis pessoas e feriu outras 14 na Califórnia.

Em seu pronunciamento, ele revelou profundo ódio pelas mulheres e se descreveu como um incel. Outro episódio trágico ocorreu em Toronto, em 2018, quando Alek Minassian atropelou intencionalmente pedestres com uma van, matando 10 pessoas. Antes do ataque, ele postou uma mensagem online em que declarava estar agindo em nome da “Revolta Incel”.

Esses casos revelam como essa ideologia incel pode ultrapassar os limites do discurso online e se transformar em atos de violência real. Toda a radicalização desses jovens muitas vezes começa com sentimentos de rejeição e solidão, e piora quando eles encontram, na internet, espaços que reforçam e incentivam esse tipo de pensamento.